domingo, 22 de junho de 2008

VÁ COM CUIDADO, MAS DIVIRTA-SE !

Ter a chance de fazer parte de um povo cuja cultura é tão ricamente misturada quanto a brasileira é um privilégio de poucas Nações. Somos descendentes de indígenas, italianos, africanos, asiáticos, alemães, portugueses, espanhóis entre outras tantas culturas. Muitas famílias brasileiras têm quatro ou mais misturas étnicas em suas origens e falamos uma única língua de Norte a Sul !

Nas notas de rúpias (moeda indiana) há nada menos que quinze dialetos dizendo o valor da nota. Um indiano do sul quando viaja a negócios para o sudeste por vezes pode precisar de um intérprete do dialeto local para o inglês ou hindi, que são as línguas oficiais na Índia. Uma vez um indiano me disse a existência de tantos dialetos não é um fator facilitador do desenvolvimento econômico do país, muito pelo contrário. Vamos refletir a respeito.

Aqui no Brasil todos se entendem. Ninguém precisa de intérprete. Basta entender bem os nomes dos pratos típicos de cada região para não passar apuros na ausência de banheiros públicos em boas condições...

Infelizmente poucos brasileiros se dão conta da importância da riqueza de nossa miscigenação cultural para o desenvolvimento do país e das pessoas !

Ontem estive no evento do centenário da imigração japonesa em São Paulo, no sambódromo e havia muitos descendentes de japoneses na arquibancada do sambódromo e também no grupo artístico de mais de 12.000 pessoas que se apresentaram. Caminhando pelas áreas de concentração, dispersão, estacionamentos do local do evento, não vi lixo no chão. Não vi pessoas estressadas, gente passando mal, vendedores ambulantes, gente mal humorada e mal educada. Fiquei lá das 3 da tarde às 9 da noite e só percebi meu cansaço quando cheguei em casa. Foi extremamente agradável estar lá !

Os povos vivem em paz aqui. A violência e as transgressões se originam muitas vezes pela falta de integração entre as culturas, falta de diálogo entre os povos e localmente pela falta de entendimento entre as pessoas.

Ouvi o mascote do evento ontem dizer o seguinte:

- Quando eu ia sair, minha avó japonesa sempre me dizia para ir com cuidado. Minha avó brasileira me dizia ´divirta-se´ !


Claudinh@

quinta-feira, 22 de maio de 2008

SEMI-ÓTICA

Havia um tempo em que eu não me preocupava muito com o significado das palavras e que eu achava que semiótica era o adjetivo que se dá a uma pessoa quase míope: ou seja, a relação entre o óculos e quem os usa... Descobri com o passar do tempo que semiótica era mais ou menos o que eu achava que era, só que não unicamente limitada ao sentido mais cego que se dá à visão.

Esta semana li um artigo de um brilhante semiotista e tradutor, doutor em lingüística e língua portuguesa. Ele fala da relação do significado de algumas palavras estrangeiras com as culturas dos povos que as usa. Muito interessante. No português também temos palavras simples e curtas que têm um significado profundo e único. Exemplo clássico: saudade.

Em alemão se diz Scheissenbedaueuern (se pronuncia xissenbedóierrn, me corrijam os experts na cultura germânica) que significa ´frustração de quando alguma coisa acaba não sendo tão ruim como se esperava´. Me perdoem os alemães, mas haja criatividade... Esta manhã conversando com minha empregada, que é pernambucana, percebi que em português um ah jesus resolveria o problema...

Uma outra palavra interessante é a bakkushan, que em japonês quer dizer ´uma jovem que parece bonita de trás, mas pode não ser bonita quando vista de frente´. Provavelmente a origem remota dessa palavra venha do português de ´bagulho´ .

Agora fantástica achei essa, também alemã: drachenfutter, descrita no artigo como presente que um marido culpado oferece à esposa para se redimir, cujo sentido literal é ´ração´ (futter) para ´dragão´ (drachen). Gostei dessa palavra, principalmente por quê em português realmente não existe nada parecido, principalmente no tocante ao sujeito praticante da ação ...

Aqui funcionaria bem ´tingo´, do rapanui , que significa pedir emprestadas, uma a uma, as coisas da casa de um amigo até não sobrar nada ou ainda ainda giomlaireachd (do gaélico escocês) que significa aparecer na casa dos outros na hora das refeições sem avisar.

De qualquer forma, admiramos quem pode dizer o que não temos coragem de dizer e duvidamos de quem tem a praticidade de utilizar boas e poucas palavras, independente da cultura que haja por detrás do pronunciante.

A comunicação é algo maravilhoso e que desafia as mentes mais céticas. Me lembro uma vez de ter presenciado um diálogo entre um engenheiro chinês e um carpinteiro piauiense em São Paulo na montagem de um evento internacional. Eles conversavam, riam, contavam piadas, trabalhavam um pouco e me perguntei qual seria o assunto travado em mandarim, português e mimiquês.

O ser humano é maravilhoso e a comunicação e o entendimento entre eles é uma das artes mais complexas do universo: haja semiótica !

Claudinha

terça-feira, 18 de março de 2008

ENSAIOS MATEMÁTICOS DE ANIVERSÁRIO

Nunca gostei de festa de aniversário. Prefiro sim festa de ano novo por quê na noite de 31 de dezembro ninguém pergunta quantos anos a gente vai fazer no ano que vem.

Um ou outro desavisado pode até aproveitar a ocasião numa festa familiar para tentar descobrir algo que nunca teve coragem de perguntar. Eu alertaria aos tais desavisados: cuidado com a pergunta por quê a resposta pode também ser desavisada.

Ainda me lembro do dia que minha irmã se casou. Faz tempo, ela até já se separou. Do marido e dos ex-namorados que ela teve depois de ter se casado e de ter se separado... Fui cumprimentar na igreja no dia do casamento meu então cunhado que soltou a seguinte pérola ao me abraçar: ´é, agora só falta você !´. Respondi o seguinte: ´quem ri por último ri melhor´. Dito e feito.

Esta semana recebi a seguinte mensagem de um amigo, que reproduzo na íntegra:

“É injusto que se apeguem a mim, embora o façam com prazer e voluntariamente. Eu iludiria aqueles em quem despertasse desejo, pois não sou o fim de ninguém e não tenho com o quê satisfazê-los. Não estou eu pronto a morrer? E, assim, o objeto do apego dessas pessoas morrerá. Logo, quando não seria eu culpado por fazer crer numa falsidade, embora eu a adoçasse e acreditasse nela com prazer, e que ela me desse prazer, ainda assim sou culpado de me fazer amar. E, se atraio as pessoas para que se apeguem a mim, devo advertir aqueles que estariam prontos a consentir na mentira de que não devem acreditar, qualquer que seja a vantagem que daí me advenha”. (Blaise Pascal)

O famoso matemático já achava justo não equacionar os problemas dos outros, perfeito.

Também gosto de números (não tanto quanto ele gostava certamente), principalmente de estatística, do estudo das probabilidades.

Longe de parecer hedonista ou uma niilista convicta, estatisticamente a fila anda.

Cl@udinha

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

CINZAS DO CARNAVAL

Todo mundo pensa que o Carnaval é uma festa típica do Brasil. Mas toda essa farra existe desde a Antiguidade e vem de muito longe.

O Carnaval originário tem início nos cultos agrários na Grécia, por volta de 605 a 527 a.C. Com o surgimento da agricultura, os homens passaram a comemorar a fertilidade e a produtividade do solo.

Das civilizações antigas até o Brasil, trazido pelos portugueses em meados de 1800, o Carnaval parece ter encontrado do lado de cá do Atlântico o cenário perfeito para tornar fértil a imaginação dos mais pagãos carnavalescos.

Depois de muita festa, cerveja, churrasco com a família e amigos, farofa na praia e literalmente muita folia vem a quarta-feira de Cinzas, o dia em que as cinzas da farra começam a se espalhar e daí talvez venha a expressão popular brasileira ´estou só o pó´.

É também na quarta-feira de Cinzas que lembramos que o IPTU, o IPVA, seguro do carro, condomínio, a escola das crianças, conta de celular venceram e parte do valor foi destinado para cobrir alguns gastos de sonhos de algumas noites de verão ...

As cinzas do Carnaval vão se espalhando lentamente junto à fuligem que começa a se acumular sobre os carros alegóricos que passarão meses debaixo de alguns viadutos ou atrapalhando o trânsito em alguns pontos pela cidade...

Hoje, quarta-feira de Cinzas aproveito para desejar Feliz Ano Novo para todos vocês !!!

Claudinha

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

CHINA IN BOX

Sete minutos. Foi o tempo que os funcionários chineses do Consulado Geral da China de São Paulo levaram para me atender desde que adentrei o local. Tinha fila, senão teriam sido três minutos.

Em meio a um caos aéreo no Brasil, a companhia aérea chinesa fez bonito. Nem um minuto de atraso na decolagem, nem no Brasil nem na cidade onde fiz a conexão para Pequim. Este bom começo me dizia que as coisas funcionariam mais ou menos como previsto sem grandes surpresas, dada a minha relativa familiaridade com a cultura chinesa. Seriam quinze dias passando por três províncias.

Chegando no aeroporto de Pequim resolvi tomar um café para encarar a minha primeira reunião com ânimo de quem tivesse feito apenas uma ponte aérea. Estrategicamente situado em frente a um dos portões de desembarque internacional encontro um Star Bucks. Descobri durante essa viagem que o efeito Western na China tem aumentado consideravelmente mudanças nos milenares hábitos de consumo por lá. Dado o calor insuportável que fazia pedi um café gelado e creio que foi o pior café gelado que já tomei na minha vida. Pensei em reclamar com a atendente, mas pensei que se fosse chá e o chá não estivesse bom talvez valesse a pena pedir uma troca, mas com o café não valeria a pena e deixei pra lá. Nada como relevar as diferenças culturais...

Um dia, já em Xangai, peguei um táxi retornando de uma reunião. Era um táxi pirata e o motorista não falava inglês, mas viemos conversando durante todo o trajeto, que durou uns quinze minutos até o meu hotel. Só não tenho certeza sobre qual era o tema da conversa, mas foi uma conversa agradável e animada, me recordo bem.

Visitando fábricas por lá tive algumas visões um tanto quanto surreais. Vi centenas de costureiras trabalhando debruçadas em bancadas situadas em galpões gigantescos, sem bebedouros ou banheiros nas proximidades, trabalhando sem qualquer conforto. Do lado de fora dos galpões havia outras centenas de bicicletas estacionadas e algumas crianças brincando. Achei aquilo estranho, perguntei a minha guia por quê havia crianças por ali. Ela me explicou que as mães que não tinham com quem deixar suas crianças tinham de levá-las ao trabalho e deixá-las brincando sozinhas do lado de fora até o final do expediente (uma média de 12 horas de jornada de trabalho em média).

No geral o esforço pela integração com outras culturas, as gentilezas para ganhar a atenção do estrangeiro, sobretudo se este é um potencial cliente, é gigantesco. Perdi a conta do número de almoços para os quais fui convidada. A cada novo prato me era explicada a origem e as tradições relacionadas a este. Aprendi também que não se fala de política, de direitos trabalhistas, de cotas de nascimentos, de miséria ou salários. Os chineses não gostam e não falam sobre temas tidos como delicados com estrangeiros, são muito reservados.

Como as regras de trânsito ainda não estão completamente consolidadas na China, estacionar em calçadas, furar cruzamentos, carros, pedestres e bicicletas disputando o mesmo espaço, são cenas corriqueiras.

É preciso discrição para se vestir. Roupas estampadas, muito coloridas ou justas ou decotadas são hábitos ocidentais que ainda chocam os chineses, que não possuem discrição alguma em olhar fixo aos estrangeiros nas ruas. As mulheres quase não usam adereços, maquiagem, são muito discretas. Enquanto que nos países latinos ser bronzeado é o máximo, na China ser bronzeado é querer ficar parecido com um filipino ou com um indiano. A beleza feminina está na brancura da pele, quanto mais branca mais bonita para os padrões de beleza locais.

Descobri enquanto estava lá que a concorrência pode ser a salvação num país absolutamente competitivo e empreendedor. A concorrência em praticamente todos os setores leva o povo a ser extremamente criativo. O que falta é o acesso a informação, isso sim. A mídia ainda é muito ´cuidadosa´ e a maior parte das notícias globalizadas ainda vem da Ásia.

Uma grande surpresa que tive foi ter conseguido agendar uma reunião com representantes do Ministério do Comércio em Pequim, onde fui extremamente bem recebida. Fiquei imaginando: possivelmente uma simples mortal como eu jamais seria tão bem recebida por um órgão público no Brasil sem uma petição oficial ou sem uma comitiva de políticos poliglotas ignorantes e pior ainda sem um passaporte diplomático. Pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença...

Em meio a tantas pontes, túneis, viadutos gigantes, edifícios colados um no outro de múltiplos andares de alturas inimagináveis por quem nunca os tenha visto antes, o sentido coletivo ainda predomina. É como se o que importasse fossem os resultados finais de qualquer trabalho ou empreendimento e não o empreendimento individual.

Esta não é uma demonstração de apologia à China. É uma expressão de simpatia somente.

Todo o esforço de integração cultural é válido: enquanto consumimos as cafeteiras chinesas eles aprendem a preparar o nosso café.

Claudia