segunda-feira, 30 de julho de 2007

PSICOLOGIA E POESIA

Um amigo meu está fazendo psicologia e precisa contar três casos narrados por pessoas que passaram por análise ou terapia. Ele me ligou hoje pela manhã porque sabe que fiz alguns anos de psicanálise e perguntou se nesse tempo houve algum fato que eu quisesse dividir com ele para seu trabalho. A princípio eu disse que não havia nada que fosse relevante de fato mas passei a tarde pensando sobre isso e resolvi escrever esse texto.
Quando eu tinha 16 anos estava passando por uma fase de profundas transformações e mergulhei em alguns autores do pensamento ocidental como Freud, Sartre e Nietzsche. Eu era bastante místico e esses autores me faziam refletir sobre idéias às quais eu estava acostumado, principalmente no que se referia à espiritualidade. Foi então que falei pra uma tia psicóloga que eu discordava de algumas idéias do Freud. Ela respondeu que isso era uma projeção decorrente do meu medo de mim mesmo, que o Freud era uma representação simbólica do mergulho em si mesmo etc. Na época eu ainda não sabia que a psicologia é uma espécie de religião. Fui fazer análise. Foram alguns anos e quando saí da terapia pouco ou nada mudara de fato. Mas dos 17, 18 anos até uns 20 anos eu vivi intensamente. Abandonei o ocultismo e a filosofia e fui conhecer o mundo, as pessoas que andam nas ruas, que amam e odeiam de verdade, que sofrem por não se renderem ao modelo Rede Globo de felicidade e bem-estar que norteia o povo brasileiro.
Aos poucos fui voltando às minhas leituras. Mais maduro, mais crítico. E fui fazendo novos e bons amigos, inclusive muitos psicólogos.
E fui percebendo que a psicologia pode ser a maior inimiga da poesia, que algumas pessoas vestem a psicologia com a mesma paixão que os fanáticos religiosos. Assim como os fanáticos vêem o diabo em tudo, alguns psicólogos vêem a anormalidade e a angústia em todos. Houve um tempo que você tirava um retrato em preto-e-branco porque era charmoso mas isso pode sinalizar o início de um quadro depressivo, já que não tem cores, ou pode ser indício de transtorno bipolar. As roupas também podem dizer muito, e partindo do princípio que existe um modelo ideal de se vestir a ser seguido, geralmente o do próprio psicólogo que está analisando, também podemos perceber a loucura alheia. E por aí vai. Coitado de quem gosta de Marilyn Manson... ou é frívolo ou serial killer.
E toda essa capacidade de análise vem junto com o diploma universitário que categoriza os especialistas na alma humana.
Bem, o que podemos dizer? Caralho.
Ops, isso é uma fala fálica...
Bem, lá vai... C A R A L H O ! ! !
Ninguém entende da alma porque entender é uma faculdade mental e a mente é uma parcela pequena do ser humano. Hoje sabemos que somos predominantemente seres afetivos. A mente é capaz de oferecer um número limitado de respostas. Podemos sentir a alma, como sentem os artistas. O que esses psicólogos fazem não é criar mas repetir aquilo que aprenderam em seus cursos. Não estou condenando a psicologia mas uma pequena parcela de psicólogos que sofrem de ego inflacionado. Se achar inteligente é perigoso, ainda mais nesse mundo tão caótico. Procuramos vida inteligente em outros planetas mas até hoje eu me pergunto se existe vida inteligente na Terra.
Em 2007 a psicanálise é uma peça de museu, quase integralmente dissecada e contestada pela medicina. Não adianta brigar com paixão para defender o charme do psicanalista de charuto atrás do divã, basta pegar as pesquisas mais recentes da neurofisiologia.
O psicólogo que fica analisando e criticando as pessoas deveria fazer terapia com um bom psicólogo. Antes eu achava que você se pune no outro. Tenho descoberto que às vezes você pune o outro por não ser você.
O mundo não é doente, ao contrário, a harmonia é a condição sine qua non da existência. O mundo está doente e isso é o resultado de questões muito amplas, não temos como dar uma resposta apenas. Sistema político, estrutura econômica vigente, fanatismo religioso... as variáveis são muitas. Mas poderíamos começar sendo mais sensatos, menos passionais e tendo mais discernimento.
Eu voltei às minhas leituras espiritualistas. Meus amigos psicólogos continuam psicólogos. Minha tia psicóloga está fazendo pós-graduação em acupuntura. O mundo continua sendo mundo.
Espero que esse texto ajude os estudantes de psicologia da turma do meu amigo a refletirem sobre a postura que adotarão no que se refere às ferramentas oferecidas pela psicologia para ajudá-los na compreensão das pessoas e do mundo, ferramentas muito importantes quando bem usadas. E que nunca se esqueçam que todos somos um pouco insanos e isso é o que dá dinâmica à existência. Um mundo perfeito não existe e se existisse seria chato à beça.