terça-feira, 3 de julho de 2007

O TRIGO E O DRAGÃO

Estou pensando em ir passear na China. Não que eu goste tanto assim de comida chinesa ou de badulaques eletrônicos xingling. Nada disso. Só pensei em ver de perto como é que com tanta gente, eles conseguiram tanta coisa nas últimas três décadas. Juscelino Kubitschek deve ter reencarnado por aquelas bandas para se vingar dos verdinhos brasileiros e construir por lá as pontes e os túneis que nem o Maluf consegueria colocar na prancheta.

(Cá entre nós, se o Maluf tivesse que comprar os materiais de construção por lá com certeza o espírito criativo dele não permitiria que ele fosse mais que um projetista de Cadcam).

Bom, quem sabe se reencarnado nas terras do dragão vermelho, JK pudesse exercer seu lado zen nos jardins da Praça da Paz Celestial regando flores de lótus aos invés de mudas de mandioca bem em frente à Cidade Proibida e poderia ir trabalhar a pé para evitar qualquer contratempo.

Outro dia li num periódico que até vitamina C e remédios genéricos estão vindo de lá para cá. É assim: a gente manda o trigo e eles pagam em yakissoba.

Vai ser interessante dar uma passeada e tomar café (o chá está virando coisa de turista por lá) com meu amigo Joe Xia em Xangai, um globalizado trader chinês que já trabalhou para corporações européias como ‘procurement agent’ (ou comprador). Procurement agent é mais chique.

Ontem falei com o Joe e ele me disse que no trabalho está tudo bem. Disse que pretende se casar dentro de um ano. Perguntei como se chamava a princesa consorte e ele me respondeu que ainda estava procurando... Enviei minhas boas palavras para ele de bom agouro e ele me agradeceu muito.

Bom, preciso dizer que me rendi a eles... Já que não sou do Partido Verde, nem trabalho com a equipe da Marina Silva e nem tenho paciência chinesa para esperar JK reencarnar por estas terras, pensei: se Buda não vai até a Montanha, a Montanha vem até Buda.

Claudindin

domingo, 1 de julho de 2007

AULA VAGA

Esta é uma pequena homenagem aos professores de Matemática que odeiam corrigir erros de Português. Também uma homenagem ao Professor Fernando, bom de papo, de copo, de taça, de caneca, de tacinha... :-D

...

A aula de Contabilidade Geral para o segundo Processamento ‘A’ tinha sido uma tormenta sobre o Mar Morto. Aquela classe não tinha mais jeito mesmo ou eu é que não tinha mais jeito para a coisa. O pior é que eu estava abandonando o leme de um navio cuja bandeira precisava ser trocada: de preta com caveira para branca com cachimbo da paz!

Fazer o quê? Ganhar uma miséria fazendo a relação Custo & Benefício? Nem com a ajuda da mão invisível de Adam Smith!

Elaborar considerações sobre as regalias que o colégio dava – dentro ‘daquele’ esquema, claro – e sobre o fato de que minha presença ali só se fazia necessária duas vezes por semana, desconsiderando as reuniões pedagógicas, cursos sugestivos de neurolinguística, elaboração de provas oficiais, extra-oficiais, trabalhos escolares, correção de todos estes... Ah ! Os tripulantes tinham que aprender a nadar. Já era tempo. Que viesse uma broaca velha àqueles piratas órfãos da Dona Boa Educação do Senhor Bom Senso ensinar que débito era (era não, é!) a aplicação dos recursos e que crédito a origem dos mesmos. Sinal mais para débito e sinal menos para crédito. Sinal verde para a broaca velha vir e sinal amarelo para eu cair fora.

Lembrar daquela vírgula no final da resposta sobre uma pergunta referente ao conceito de Despesa foi o ponto final. Corrigir erros de Português é uma coisa de estupidez é outra. Não que eu me exaltasse com facilidade, mas cá entre nós, ex ou não-professores: joguinho eletrônico, heavy metal, giz branco e contabilidade decididamente resultam numa salada russa em Paris... Pior que sair da aula para ‘posso comer um cheese-salada na cantina, Professora’ só mesmo ‘posso ir NO banheiro, professora’...

Era um tal de ‘Professora, posso ir NO banheiro’ que numa bela manhã de terça-feira a minha bexiga quase estourou de cistite e perguntei à classe:

- Escuta aqui, pessoal, o que é que vocês tomam no café da manhã, cerveja ?

A classe caiu na risada. Santo remédio para o excesso de vontade de ir AO banheiro essa cerveja que eu usei. Sabe que o congestionamento nos banheiros diminuiu? Estranha essa juventude de uns dez anos para cá depois da minha... Há poucos anos tudo era tão diferente. Há dez então nem se fala ! Ouvir no segundo dia de aula um ‘A Sra. Fala muito difícil, professora’ já começou a me preocupar.

Eu dizia a eles para animá-los e em partes também para esconder meu lado adolescente que não existem pessoas burras, mas pessoas que têm preguiça de pensar.

Bem, a primeira vez que ouvi essa frase não foi exatamente com esse samba-enredo. Foi um pouquinho diferente, de um palhaço que sentava ao meu lado, na faculdade, o Reginaldo. Que figura!

Certo dia, ou melhor, certa noite, depois de uma carregada aula de Matemática Financeira, depois de ele ter resolvido um problema sobre montante com juros compostos e verificado a minha dificuldade em chegar ao resultado rapidamente, virou-se para mim e disse que eu não era burra, mas que tinha preguiça de pensar. Ele estava tão certo que eu levei uns cinco anos para concordar com ele. Coisas da vida...

Deixem-me ver onde parei... Ah ! Na vírgula no final da resposta,

Foi naquele dia de um final de outubro, que cheguei no diretor e falei categoricamente que meus demais compromissos profissionais estavam subestimando as potencialidades das duas classes e que eu não poderia prejudicar nem o colégio, nem os alunos, nem os bolsos de seus pais e, portanto, que seria melhor dar a vez para um outro professor que tivesse maior disponibilidade de de horários que eu. Ótima saída. Não é que deu certo ? Consegui que o colégio me dispensasse, ou seja, garanti meu Natal e meu Ano Novo. Bem, o dinheiro seria para garantir a ceia de Natal e o FGTS que sairia dali a um mês garantiria uma garrafa de champagne rose à beira da praia. Praia Grande, lógico, que ninguém é perfeito né?

De vez em quando sinto saudades, mas acho que foi melhor assim. De qualquer maneira, a minha alegria em me ver livre daquele povo de falsa esquerda, diga-se absolutamente pós-modernistas em termos de filosofia capitalista, me deixou com um pé atrás. Hoje sou mais calma, claro, o que prova que tudo tem seu preço.

Tem sido bom para as três partes, tive dito e pedi deferimento.

Atenciosamente, sempre, é claro. Justíssimo.

Claudinha