quinta-feira, 15 de novembro de 2007

BLACK BOX

Esta semana brinquei de forca. Foi a única brincadeira que eu lembrei para poder ensinar inglês para a minha nova aluna, que tem apenas 9 anos. Ela foi tão gentil e educada ao perguntar se não tinha outro jeito de aprender inglês a não ser usando o livro que não resisti:

- Ah, você tem razão, esse livro é muito chato mesmo. Vamos brincar do quê ?

Descobri que não sabia mais brincar de forca... Desenhei a bonequinha inteira e depois fui fazendo um x nas partes do corpo da bonequinha a medida em que minha aluna não acertava as letras da palavra que eu tinha imaginado para o jogo. Menos mal que ela gostou da minha boneca de lacinho. Já comecei a pesquisar se existe mangá em inglês, pedi ao especialista da família para fazê-lo para mim, um nobre cavaleiro estilo Cosplay Naruto de 14 anos.

Outro dia tive de fazer a seguinte pergunta para um outro aluno, este já num nível intermediário do idioma, um precoce menino de 12 anos (claro tudo pelo método moderno de aquisição de idiomas que a escola usa):

- Quando você morrer, onde você desejará que seja o seu túmulo e que palavras você gostaria que estivessem escritas na sua lápide ?

O garoto olhou para mim com os olhos arregalados por trás do seu óculos de intelectual sorriu talvez querendo dizer algo como ‘você não pode estar falando sério’. Eu poderia ter pulado a pergunta, mas quando percebi já era tarde demais. O garoto sorriu e disse:

- Mas eu só tenho 12 anos !

Tive de sair dessa. Improvisações a parte, acabei ajudando o garoto a construir a frase que ficou mais ou menos assim:

- Aqui jaz um cara legal. Divirtam-se a aproveitem a vida também.

Ainda bem que isso aconteceu bem no final da aula ! Ufa ...

Para quem nunca planejou ensinar, tenho gostado da experiência, embora tem dias que eu tenha vontade de dizer que a consulta como psicóloga custa dez vezes mais que a aula de inglês.

Sem problemas, vou recomendar a escola que faça um bom convênio com um consultório de psicologia ou então vou fazer pós-graduação em psicologia cognitiva e me tornar uma professora de inglês-terapeuta.

O mais maravilhoso é perceber que a diversidade humana é que faz da vida algo tão fantástico !

Como dizem os americanos, life is a black box. A vida é uma caixinha de supresas mesmo!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O REI E O ANEL

Era uma vez um rei que administrava seu reino com extremo zelo e que para tanto contava com bons conselheiros e até mesmo com um sábio em sua corte, além de fiéis cavaleiros bem preparados para um combate inesperado.

Numa manhã o rei recebeu de presente de um visitante nobre um belo rubi e mandou chamar o joalheiro da corte para pedir a este que criasse um anel, que seria o seu anel da sorte, pois assim o aconselhara o visitante que lhe presenteara a pedra.

O rei pediu ao joalheiro que criasse um pequeno compartimento no anel que deveria estar exatamente debaixo do rubi, onde um pequeno pedaço de papel pudesse ser armazenado. Como o compartimento era muito pequeno, qualquer coisa que se escrevesse naquele pequeno pedaço de papel não poderia ultrapassar quatro palavras.

Quando o anel ficou pronto o rei mandou chamar o sábio e lhe explicou sobre o anel. O rei então pediu ao sábio que lhe escrevesse as quatro palavras que lhe pudessem ser úteis num momento de extrema necessidade ou desespero.

O sábio assentiu e pensou por um instante. Chovia há dias e o sábio disse ao rei que assim que a chuva passasse ele entregaria ao rei as quatro palavras já escritas no pequeno papel tendo-o colocado no compartimento do anel da sorte do rei.

Dito isto, o rei concordou e entregou o anel ao sábio.

Passados dois dias e também as chuvas que irrompiam no reino há quase uma semana, o sábio devolveu o anel ao rei e disse:

- Majestade: abra o compartimento do anel somente num momento de extrema necessidade.

O rei concordou e colocou o anel no dedo. Passadas algumas semanas, o reino foi invadido por bárbaros e estes queriam a cabeça do rei para poderem tomar posse do reino. O rei percebeu que seu exército era muito mais fraco que o do inimigo e que fôra pego de surpresa. Era a ele que eles queriam.

Não lhe restava outra alternativa senão fugir em seu cavalo. Sem alarde pediu a seu servo imediato que preparasse seu melhor cavalo e partiu sem rumo. Os bárbaros o perseguiam e o rei se sentia acuado e em desespero.

O rei tinha decidido poupar seus soldados uma vez que o exército inimigo era duas vezes maior que o seu próprio exército e sabendo ele que era a sua cabeça que os bárbaros queriam, decidiu partir só para poupar vidas e afastar a atenção dos bárbaros para uma região vizinha a do seu reinado.

Foi então que o rei lembrou-se do anel. Abriu o compartimento e pegou o pequeno pedaço de papel onde estava escrito:

- ‘Isso vai passar.’

O rei sentiu-se de alguma forma aliviado, enxergou logo adiante uma clareira, entrou nela, se escondeu, até que os bárbaros, já o tendo perdido de vista desistiram e partiram.

Já seguro, o rei retornou ao povoado onde todos o aguardavam ansiosos, uma vez que não acreditavam que ele ainda pudesse estar vivo. Quando o viram retornar são e salvo, houve festa e exultação geral entre todos. O rei sentia-se orgulhoso de si mesmo e em êxtase por estar vivo e por ter retornado ao seu reino que permanecera intacto.

Neste momento, o rei recordou-se das palavras escritas no pequeno pedaço de papel contido no anel pelo sábio e o mandou chamar. Ele agradeceu o sábio pelas palavras escritas. O sábio pediu ao rei que lesse novamente o papel.

O rei questionou pois ele estava tão feliz, tão alegre, não havia motivo algum para desespero naquele momento e nenhuma vida tinha sido perdida na quase batalha. O rei estava orgulhoso de si mesmo e alegre.

O sábio repete:

- Majestade: lhe peço que leia novamente o pequeno papel.

O rei olha com atenção ao semblante sério do sábio e abre o compartimento do anel e lê:

- Isso também vai passar...

(este texto é uma adaptação livre de uma parábola sufi)