quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

CHINA IN BOX

Sete minutos. Foi o tempo que os funcionários chineses do Consulado Geral da China de São Paulo levaram para me atender desde que adentrei o local. Tinha fila, senão teriam sido três minutos.

Em meio a um caos aéreo no Brasil, a companhia aérea chinesa fez bonito. Nem um minuto de atraso na decolagem, nem no Brasil nem na cidade onde fiz a conexão para Pequim. Este bom começo me dizia que as coisas funcionariam mais ou menos como previsto sem grandes surpresas, dada a minha relativa familiaridade com a cultura chinesa. Seriam quinze dias passando por três províncias.

Chegando no aeroporto de Pequim resolvi tomar um café para encarar a minha primeira reunião com ânimo de quem tivesse feito apenas uma ponte aérea. Estrategicamente situado em frente a um dos portões de desembarque internacional encontro um Star Bucks. Descobri durante essa viagem que o efeito Western na China tem aumentado consideravelmente mudanças nos milenares hábitos de consumo por lá. Dado o calor insuportável que fazia pedi um café gelado e creio que foi o pior café gelado que já tomei na minha vida. Pensei em reclamar com a atendente, mas pensei que se fosse chá e o chá não estivesse bom talvez valesse a pena pedir uma troca, mas com o café não valeria a pena e deixei pra lá. Nada como relevar as diferenças culturais...

Um dia, já em Xangai, peguei um táxi retornando de uma reunião. Era um táxi pirata e o motorista não falava inglês, mas viemos conversando durante todo o trajeto, que durou uns quinze minutos até o meu hotel. Só não tenho certeza sobre qual era o tema da conversa, mas foi uma conversa agradável e animada, me recordo bem.

Visitando fábricas por lá tive algumas visões um tanto quanto surreais. Vi centenas de costureiras trabalhando debruçadas em bancadas situadas em galpões gigantescos, sem bebedouros ou banheiros nas proximidades, trabalhando sem qualquer conforto. Do lado de fora dos galpões havia outras centenas de bicicletas estacionadas e algumas crianças brincando. Achei aquilo estranho, perguntei a minha guia por quê havia crianças por ali. Ela me explicou que as mães que não tinham com quem deixar suas crianças tinham de levá-las ao trabalho e deixá-las brincando sozinhas do lado de fora até o final do expediente (uma média de 12 horas de jornada de trabalho em média).

No geral o esforço pela integração com outras culturas, as gentilezas para ganhar a atenção do estrangeiro, sobretudo se este é um potencial cliente, é gigantesco. Perdi a conta do número de almoços para os quais fui convidada. A cada novo prato me era explicada a origem e as tradições relacionadas a este. Aprendi também que não se fala de política, de direitos trabalhistas, de cotas de nascimentos, de miséria ou salários. Os chineses não gostam e não falam sobre temas tidos como delicados com estrangeiros, são muito reservados.

Como as regras de trânsito ainda não estão completamente consolidadas na China, estacionar em calçadas, furar cruzamentos, carros, pedestres e bicicletas disputando o mesmo espaço, são cenas corriqueiras.

É preciso discrição para se vestir. Roupas estampadas, muito coloridas ou justas ou decotadas são hábitos ocidentais que ainda chocam os chineses, que não possuem discrição alguma em olhar fixo aos estrangeiros nas ruas. As mulheres quase não usam adereços, maquiagem, são muito discretas. Enquanto que nos países latinos ser bronzeado é o máximo, na China ser bronzeado é querer ficar parecido com um filipino ou com um indiano. A beleza feminina está na brancura da pele, quanto mais branca mais bonita para os padrões de beleza locais.

Descobri enquanto estava lá que a concorrência pode ser a salvação num país absolutamente competitivo e empreendedor. A concorrência em praticamente todos os setores leva o povo a ser extremamente criativo. O que falta é o acesso a informação, isso sim. A mídia ainda é muito ´cuidadosa´ e a maior parte das notícias globalizadas ainda vem da Ásia.

Uma grande surpresa que tive foi ter conseguido agendar uma reunião com representantes do Ministério do Comércio em Pequim, onde fui extremamente bem recebida. Fiquei imaginando: possivelmente uma simples mortal como eu jamais seria tão bem recebida por um órgão público no Brasil sem uma petição oficial ou sem uma comitiva de políticos poliglotas ignorantes e pior ainda sem um passaporte diplomático. Pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença...

Em meio a tantas pontes, túneis, viadutos gigantes, edifícios colados um no outro de múltiplos andares de alturas inimagináveis por quem nunca os tenha visto antes, o sentido coletivo ainda predomina. É como se o que importasse fossem os resultados finais de qualquer trabalho ou empreendimento e não o empreendimento individual.

Esta não é uma demonstração de apologia à China. É uma expressão de simpatia somente.

Todo o esforço de integração cultural é válido: enquanto consumimos as cafeteiras chinesas eles aprendem a preparar o nosso café.

Claudia